Pelo que me pareceu, a rapaziada que por ali andava tinha deitado para o chão aquele meio pastel de carne. Não sei se por não gostarem dele se porque carga de água. Mas ali ficou, com um comentário mental meu, que mais valia terem-no deitado no caixote, que disso por ali não falta.
Seja como for, os pombos acabaram por o ver e vieram por ele. Primeiro um, depois outro, depois aos pares e aos trios, acabaram por ali se juntar mais de uma vintena de pombos. Todos atraídos pelo meio pastel de carne, suculento e apetitoso.
Mas se eram muitos, poucos puderam descobrir a que sabia. Que desde cedo veio um pombo maior, corpulento e de penas rebrilhantes, que entendeu que aquilo lhe pertencia. E sua convicção era tal que mal conseguia dele comer, tal era a senha com que corria à bicada e assanhado com todos os outros que se aproximavam.
Estes, grandes e pequenos, machos e fêmeas, usavam de todas as artimanhas, desde chegarem-se em grupos até esperarem que ele se afastasse um nico, correndo com alguns, para virem pelas costas. Mas de nada servia, que ele a todos topava e a todos corria.
Incomodou-me! Afinal, ainda que fosse só meio pastel de carne, os seus sete a oito centímetros de comprido eram bastante mais do que caberia no seu papo e daria, pela certa, para partilhar com os restantes.
Avancei, de navalha aberta e, para espanto da garotada que por ali convivia, baixei-me e cortei o pastel em quatro, afastando as partes um pouco umas das outras. Daria para todos, pensei.
Como me enganava! No regresso de lavar a lâmina no chafariz do parque, dou com o tal matulão, bem no meio das partes no chão, a reclamar a sua posse em luta com os que se aproximavam. Tinha muito mais trabalho, que a área a cobrir era francamente maior, mas bicava a torto e a direito, sobre todos os que quisessem uma nica.
Fiquei francamente furioso. Afinal aquilo dava para todos! Em duas valentes passadas aproximei-me, enxotei todos em redor e, a pontapé, afastei francamente os restos mortais do pastel. Sempre queria ver como é que o valentão iria defender aquela área enorme. Não o fez!
Depois de ter andado de um para outro, apropriou-se do maior e defendeu-o com a mesma energia de sempre. Aos restantes acercaram-se os menos afoitos, mas ficaram confrontados com outros proprietários, de menor porte mas suficiente para defender aqueles pedaços menores. No lugar de um grande ditador, criaram-se quatro ditadores, cada um à medida do pedaço que defendia. Os mais pequenos, esses, acabaram por conseguir bicar apenas nas migalhas que saltavam para longe dos pedaços grandes. Até que tudo ficou consumido e limpinho, como se nunca ali tivesse estado. E partiram para outras paragens!
Para que não haja confusões nem erros de interpretação, deixo aqui uma imagem ilustrativa. Ficar-se-á assim com a certeza de que estou a falar de pombos num jardim e não de homens em torno de um lugar na política ou de um posto de chefia numa empresa.
Texto e imagem: by me
Seja como for, os pombos acabaram por o ver e vieram por ele. Primeiro um, depois outro, depois aos pares e aos trios, acabaram por ali se juntar mais de uma vintena de pombos. Todos atraídos pelo meio pastel de carne, suculento e apetitoso.
Mas se eram muitos, poucos puderam descobrir a que sabia. Que desde cedo veio um pombo maior, corpulento e de penas rebrilhantes, que entendeu que aquilo lhe pertencia. E sua convicção era tal que mal conseguia dele comer, tal era a senha com que corria à bicada e assanhado com todos os outros que se aproximavam.
Estes, grandes e pequenos, machos e fêmeas, usavam de todas as artimanhas, desde chegarem-se em grupos até esperarem que ele se afastasse um nico, correndo com alguns, para virem pelas costas. Mas de nada servia, que ele a todos topava e a todos corria.
Incomodou-me! Afinal, ainda que fosse só meio pastel de carne, os seus sete a oito centímetros de comprido eram bastante mais do que caberia no seu papo e daria, pela certa, para partilhar com os restantes.
Avancei, de navalha aberta e, para espanto da garotada que por ali convivia, baixei-me e cortei o pastel em quatro, afastando as partes um pouco umas das outras. Daria para todos, pensei.
Como me enganava! No regresso de lavar a lâmina no chafariz do parque, dou com o tal matulão, bem no meio das partes no chão, a reclamar a sua posse em luta com os que se aproximavam. Tinha muito mais trabalho, que a área a cobrir era francamente maior, mas bicava a torto e a direito, sobre todos os que quisessem uma nica.
Fiquei francamente furioso. Afinal aquilo dava para todos! Em duas valentes passadas aproximei-me, enxotei todos em redor e, a pontapé, afastei francamente os restos mortais do pastel. Sempre queria ver como é que o valentão iria defender aquela área enorme. Não o fez!
Depois de ter andado de um para outro, apropriou-se do maior e defendeu-o com a mesma energia de sempre. Aos restantes acercaram-se os menos afoitos, mas ficaram confrontados com outros proprietários, de menor porte mas suficiente para defender aqueles pedaços menores. No lugar de um grande ditador, criaram-se quatro ditadores, cada um à medida do pedaço que defendia. Os mais pequenos, esses, acabaram por conseguir bicar apenas nas migalhas que saltavam para longe dos pedaços grandes. Até que tudo ficou consumido e limpinho, como se nunca ali tivesse estado. E partiram para outras paragens!
Para que não haja confusões nem erros de interpretação, deixo aqui uma imagem ilustrativa. Ficar-se-á assim com a certeza de que estou a falar de pombos num jardim e não de homens em torno de um lugar na política ou de um posto de chefia numa empresa.
Texto e imagem: by me
Gostei verdadeiramente desta!Não se trata portanto de um comentário, porque está tudo dito. Apenas a observação!
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