Quem é?
Eu sei-o, ele sabe-o mas será não muito importante que os que por aqui o vêem o saibam.
Basta que se saiba que foi alfaiate de ofício, filósofo de coração, retórico convicto.
Não sei se seria dois terços do que é se não fosse mais um dos que, por esse país fora, arrastam o que lhes sobra na memória e afecta a vida sobre o que passaram em África. Um daqueles que por lá estiveram, que voltaram com a pele toda, que fizeram o que fizeram, que viram o que viram e que, ainda hoje, em sonhos ou acordados, não o conseguiram guardar numa gaveta da memória.
É assustador constatar quantos por aí andam, deambulando, desejosos de encontrar algo ou alguém que lhes restitua uma noite que seja de tranquilidade.
No meu para-ofício de fotógrafo de jardim, ali estando com alguma bonomia ouvindo e retorquindo, acabo por ser, também, ouvinte do que me vão contando. E, à medida que os contactos se vão repetindo e as confianças aumentando, as memórias vêm à tona, uns desabafos tímidos, um lançar a bisca a ver se poderão continuar ou se serão tratados como loucos, que é a tónica dominante nos tempos que correm.
Dos detalhes ainda não ouvi. Apenas dos sintomas e das consequências. E das idas às consultas, das longas noites insones, dos receios de perca de auto-controlo, dos medos nas ruas, do pavor de regressar a casa… destes e de outros detalhes vou ouvindo, sem saber bem que responder que não seja com os ouvidos, escutando-os e tentando que ali, junto a uma câmara de outros tempos, sem estranhos de volta, possam contar voluntariamente o que os assusta de outros tempos e de hoje, sem peias ou recriminações.
Dos idosos que por ali andam, no Jardim da Estrela, são pelo menos quatro com estas atitudes que de mim vão fazendo confidente. E eu, em escutando-os e vendo-lhes as mudanças de humor e, ocasionalmente, uma lágrima escondida, recordo-me dos nossos políticos que tentam, a todo o custo, esconder estas misérias humanas de que somos todos, de uma forma ou outra, responsáveis. E possuidores do dever de para com eles ter uma atitude mais condigna na sua condição de ex-combatentes, fosse ou não válida a guerra em estiveram envolvidos.
Porque o conceito de pátria ou de nação, seja isso lá o que for, não se prende apenas aos momentos de glória e de êxtase.
Para estes olhos, e para os outros que vagueiam por todos os “jardins da estrela”, os meus pedidos de desculpa em nome dos portugueses, pelo abandono a que são votados!
Texto e imagem: by me
Eu sei-o, ele sabe-o mas será não muito importante que os que por aqui o vêem o saibam.
Basta que se saiba que foi alfaiate de ofício, filósofo de coração, retórico convicto.
Não sei se seria dois terços do que é se não fosse mais um dos que, por esse país fora, arrastam o que lhes sobra na memória e afecta a vida sobre o que passaram em África. Um daqueles que por lá estiveram, que voltaram com a pele toda, que fizeram o que fizeram, que viram o que viram e que, ainda hoje, em sonhos ou acordados, não o conseguiram guardar numa gaveta da memória.
É assustador constatar quantos por aí andam, deambulando, desejosos de encontrar algo ou alguém que lhes restitua uma noite que seja de tranquilidade.
No meu para-ofício de fotógrafo de jardim, ali estando com alguma bonomia ouvindo e retorquindo, acabo por ser, também, ouvinte do que me vão contando. E, à medida que os contactos se vão repetindo e as confianças aumentando, as memórias vêm à tona, uns desabafos tímidos, um lançar a bisca a ver se poderão continuar ou se serão tratados como loucos, que é a tónica dominante nos tempos que correm.
Dos detalhes ainda não ouvi. Apenas dos sintomas e das consequências. E das idas às consultas, das longas noites insones, dos receios de perca de auto-controlo, dos medos nas ruas, do pavor de regressar a casa… destes e de outros detalhes vou ouvindo, sem saber bem que responder que não seja com os ouvidos, escutando-os e tentando que ali, junto a uma câmara de outros tempos, sem estranhos de volta, possam contar voluntariamente o que os assusta de outros tempos e de hoje, sem peias ou recriminações.
Dos idosos que por ali andam, no Jardim da Estrela, são pelo menos quatro com estas atitudes que de mim vão fazendo confidente. E eu, em escutando-os e vendo-lhes as mudanças de humor e, ocasionalmente, uma lágrima escondida, recordo-me dos nossos políticos que tentam, a todo o custo, esconder estas misérias humanas de que somos todos, de uma forma ou outra, responsáveis. E possuidores do dever de para com eles ter uma atitude mais condigna na sua condição de ex-combatentes, fosse ou não válida a guerra em estiveram envolvidos.
Porque o conceito de pátria ou de nação, seja isso lá o que for, não se prende apenas aos momentos de glória e de êxtase.
Para estes olhos, e para os outros que vagueiam por todos os “jardins da estrela”, os meus pedidos de desculpa em nome dos portugueses, pelo abandono a que são votados!
Texto e imagem: by me
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