Vendedor


Ao contrário do que suspeitava no início deste projecto, são poucos os casais de namorados que querem ser fotografados pelo tipo de barbas e a caixa de madeira no jardim da Estrela.
Poderá haver diversos motivos para tal, começando por a fotografia estar banalizada com as digitais e os telemóveis e terminando na efemeridade das relações afectivas de quem ronda os 20 anos, mais ou menos uns quantos. E uma fotografia quase formal de um casal feita por um estranho é quase um compromisso que não se quer assumir.
Sinais dos tempos, que não são nem bons nem maus.
Mas quando tenho por “clientes” um casal, apaixonadíssimo, talvez pela raridade, fico todo derretido. As regras do “Oldfashion”, porque criadas, impostas e mantidas por mim, vão às urtigas.
E se o casal a roçar os 50’s, nitidamente apaixonado, quer fazer um retrato dos dois, ainda que não tenha dinheiro para tal, mesmo que fosse a cobrar passaria a ser de borla.
E se me dizem que gostariam de ter uma só dela, para ele trazer na carteira, não há rotinas de composição nem mensagens subliminares que resistam! Faça-se!
E se me pedem, uns 15 minutos passados, uma segunda cópia da primeira com os dois, para que cada um a possa ter em sua casa, na mesa-de-cabeceira, quem sou eu para não satisfazer semelhante vontade? De borla! Grátis! A custo zero!
Que ver a satisfação nas suas caras e os olhares enternecidos que trocam é paga mais que suficiente.
Esta é daquelas situações em que o lucro deste “negócio” é assumidamente do “cliente”, para prazer do “vendedor”.
Que bom ser vendedor de felicidade!


Texto: by me
Imagem: by me, anonimos passantes

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