Ginástica de luz


Sabemos, com a certeza que a ciência nos dá e a prática nos ensina, que fotografar é registar a luz.
A que é emitida ou reflectida dos objectos e que, passando por um qualquer sistema que a canaliza e organiza, vai modificar, transformar ou deformar um pedaço de matéria. Cabe ao fotógrafo rectangularizar a luz e permanentalizar essa modificação.
Isto é fotografia na sua essência. Todas as outras considerações sobre estética, ética e técnica são argumentos por vezes fúteis ou inúteis sobre esta verdade factual.
Podemos pensar em significados e significantes, mensagens e interpretações, se o retrato transmite a alma do retratado ou se a perspectiva é bonita. Mas sem luz, a nossa matéria-prima, nada aconteceria!
É ela que modela os nossos assuntos, que pinta o nosso rectângulo (um dia fotografarei em formato triangular!), que atrai as nossas atenções e nos mostra o que nos cerca. E quando ela lá não está como a queremos, ou quando queremos ou quanto queremos, usamos toda uma parafernália de equipamento para que esteja. Reflectindo ou projectando, continuamente ou por breves instantes, com instrumentos minúsculos ou com camiões e cordões umbilicais atrás.
Quando em exteriores, dependemos as mais das vezes do sol e das sombras naturais. Os contrastes são de mais complexo controlo e não raramente olhamos para um dado assunto, subjectivamente interessante, e dizemos: “Isto até tem graça e é bonito, mas com esta luz não!” E registamos um eventual regresso ao local em condições mais propícias.

Um exercício de imaginação e de capacidade (ou incapacidade) de resolver problemas relacionados com a luz é passar um dia plantado no mesmo local, fotografando.
Com árvores próximas e afastadas, provocando sol e sombra nos assuntos próximos e distantes. E, se a mãe natureza ajudar ao exercício, que o céu esteja ora coberto, ora descoberto, fazendo variar os contrastes de luz com frequência.
Para dificultar o exercício, tenham-se ideias definidas sobre semiótica, estética, perspectiva e mensagem. E recuse-se o recurso a luzes artificiais.
Garanto-vos: o maldito do movimento de rotação do planeta deita por terra as melhores intenções, obrigando a ginásticas mentais e práticas para encontrar equilíbrio entre todos os factores.
E, muitas vezes, ficamo-nos pelas eliminatórias!

Texto e imagem: by me

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